7 de fev. de 2014

A morte pede o café na carona dura

Dona Zezé, a mulher do café (li isso numa tirinha de jornal, faz muito tempo e gostei, portanto é uma personagem emprestada e fictícia). Ou ela faz, ou ela serve ou vai buscar na copa da dona Beth, a calma.

O cafezinho é um tradição genuinamente brasileira, não há que se negar.

Em todas as empresas sempre tem um cafezinho, seja para os funcionários, para os clientes, para os chefes e diretores, enfim, todos tem o seu café meritório. Quer saber o grau de importância de alguém num determinado local de trabalho, veja como é o cafezinho que lhe é servido.

De manhã, para acordar. De tarde, após o almoço, para se manter acordado. No final do expediente... ah não, no final do expediente não. Quase ninguém quer, mormente, se for café de garrafa térmica. No final de expediente a gente pensa em suco, cerveja, chopp, refrigerante, em "happy hour" e quejandos.

Mas, falando em café... lembro-me que tem os cafés servidos em xícaras e bandejas suntuosas, com garçons com o braço esquerdo escondido nas costas e a espinha dorsal curvada para frente.

Recordo-me tempos de outrora, quando trabalhava numa agência de publicidade, Salles, e esperávamos ansiosamente a visita do garçon, não porque era diretor presidente, mas porque era praxe da empresa o garçon servir de bandeja o cafezinho uma vez pela manhã e outra à tarde. Chique? Nem tanto... os copinhos eram descartáveis mesmo. Mas, quer saber? Naqueles tempo bicudos, era chique sim. Conceitos mudam ou evoluem.  E lá vinha ele, todo garboso, cônscio da importância da sua visita. Eu, pensei três vezes: "o garçon vai derrubar a bandeja!", "o garçon vai derrubar a bandeja!" e, finalmente, "o garçon vai derrubar a bande...." e, catapumba!!! O garçon tropeçou, sabe-se lá como, e derrubou a bandeja. O interessante é que eu pensei em voz alta ou baixa, porque meu colega da mesa ao lado ouviu.... e depois, verificado o resultado, olhou-me admirado. Sei lá, intuição, quiçá. Quase que comecei uma profissão de vidente... o primeiro  criente (cliente que crê), em potencial, eu já tinha.

Noutro lugar, o café era de péssima qualidade e tomávamos por extrema necessidade mesmo, após noites insones. Era até denominado de "radioativo". Diziam que ficávamos elétricos e reluzentes por causa do elemento x. Sei lá o que era o tal elemento e, era melhor nem saber.

E mais recentemente, trabalhando num lugar onde o café é engarrafado, a Dona Zezé a mulher do café, tinha que levar as garrafas para higienização no final da tarde. Certa feita, a inocente, Dona Zezé, duvidando se alguém ainda gostaria de sorver um pouco daquele néctar dos deuses, curtido o dia inteiro em tonéis duca, digo ampola de alumínio, perguntou sem pestanejar: "Alguém vai querer tomar o último café?" "Não", alguém respondeu, "ainda quero viver muito para poder tomar muitos cafezinhos, Dona Zezé!" Ela olhou com ar interrogativo-exclamativo, pegou as garrafas e seguiu seu caminho. As pessoas entreolharam-se e caíram em risos lacrimejantes, menos alguém que ainda arrematou "Até que agora, eu até tomaria mais um". "Talvez um suicida", disse outrem. Mural da história, para ficar afixado: tem histórias que só tem graça na hora do cafezinho e com os colegas de trabalho. Como dizia um personagem do Suassuna: "só sei que foi assim!".