29 de dez. de 2011

ZIGUEZAGUEADO

O meu ano de 2011 foi marcado por ziguezagues pessoais, eletrocardiograma de emoções, gráfico instável com muitos picos, planícies e sublinhas. Nem ouso falar que foi um período monótono. Pelo contrário, o tempo foi escasso e a tomada de decisões foi ágil, célere. Nem todos momentos foram flores e nem haveriam de ser.
 
Viver não tem "restauração do sistema", não tem "undelete", não tem a tecla "voltar". Como já dissera inúmeras vezes, o sábio "Anônimo": "Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida". E se perdemos oportunidades é que as que abraçamos no momento da tomada de decisão pareciam-nos serem as mais acertadas.  Como dizia uma velha canção "O tempo não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém".
 
Não, não, nem adianta insistir que não vou me referir a música do rei "Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi". Não mesmo!
 
Tá tudo tranquilo, dentro do possível. É isto. Fim de papo. Fim de Ano.
 
2011 termina bem feliz no final das contas. Aliás, como os amigos disseram no final de 2010 "Feliz 2011". Foi sim, meus amigos!!! Foi um Feliz 2011!
 
E agora mesmo é o que desejo-lhes dizendo "FELIZ 2012".
 
(Edmilson)
 
 
 
 
 
 
 

14 de dez. de 2011

VIAGEM ASTRAL

na calada da noite
no entardecer dos sentidos
quando as forças do corpo já não existiam
surgistes de forma leve e mágica
em estado de graça
anjo benfazejo
antimatéria de demônios adormecidos
nada sei ao certo
exceto o que senti sem julgar
sem racionalizar
de mim saiu naquele instante o meu próprio anjo
minha própria alma
enquanto a sua era mesclada na minha
sem também declinar ao certo
se do bem ou do mal
emissária do amor incondicional
do amor que transcende o tempo e a razão
do amor que momentaneamente
pode se transformar em desilusão

(escrito nos anos 90???? talvez não!!!)

10 de dez. de 2011

Musa 2

Rubra face
olhar triste
sorriso irradiante
duas negras luas
iluminam a noite
tolos são os que deixaram
essa deusa à solta
com tantos poetas ávidos por inspiração
musa dourada clamarei
do âmago infindável de desejo
fique aprisionada no meu poema
porque sofrer por ti é garantia
de muito mais poesia

Edmilson (07/01/2005)



CIDADE DOS ANJOS

"Eu preferiria..
Sentir o cheiro de seus cabelos,
Dar um beijo em sua boca...
Tocar uma vez em sua mão...
A passar a eternidade
Sem isso..."
 
do filme "Cidade dos Anjos"

5 de dez. de 2011

O CARRO VERMELHO DE KIM BASINGER

 Estava confirmado. Kim Basinger estava passando férias em São Paulo. Toda a imprensa havia noticiado que a atriz era tão excêntrica como qualquer outra super estrela de Hollywood.

Dentre suas excentricidades havia uma muito especial. Onde quer que fosse passar férias levava sempre consigo, em seu avião particular, um carro vermelho fabricado pela Volkswagem do Brasil, um Gol 88.


Por que um Gol 88? Por que não um modelo mais valioso? Por que não um carro mais moderno, veloz?


Lá em Hollywood ninguém deu a menor importância para essa excentricidade, mas aqui, desde que se soube, houve um desconforto geral entre os jornalistas que não conseguiam nem escrever sobre o assunto. Para eles, Kim Basinger viajar com o carro no avião não causava qualquer espanto mas sim o fato de ser um Gol 88 vermelho. E ninguém arriscava nem ao menos falar sobre o assunto com a super estrela. Perguntavam sobre planos futuros, casamentos acabados, próximos filmes etc., mas nunca sobre o carro.


Bem, a outra excentricidade não é bem uma excentricidade, apenas um prazer especial de quem lutou para ser conhecida, adorada, idolatrada pelo público do mundo inteiro. Kim fazia questão de andar livremente pelas ruas dos lugares onde visitava, naturalmente, sem se esconder por detrás dos óculos escuros para não ser reconhecida e incomodada pelos fãs. Quando os usava era em virtude do sol do verão brasileiro. Do contrário, sorria para todos que a cumprimentavam, sentia prazer em ser notada e em dar autógrafos. O seu corpo escultural causava sensações inúmeras. Os homens a acariciavam com os olhos, as mulheres invejavam-na.


Mas, naquele verão, soou como um gongo chinês, uma notícia bombástica: Kim Basinger veio passar férias em São Paulo e trouxe, naturalmente, seu Gol 88 vermelho e, no entanto, não vai levá-lo de volta aos Estados Unidos. O carro deverá ficar no Brasil.


Um grande leiloeiro, antevendo a oportunidade, já se prontificou, de imediato, a leiloar o objeto e doar parte da renda, 5 por cento, para instituições de caridade. Mas ela descartou a hipótese, desconfiando imediatamente. A própria empresa fabricante do veículo ofereceu uma fortuna para que ela participasse do lançamento do novo modelo do Gol, chegando de Gol Vermelho 88 e saindo com um novinho em folha. Ela não aceitou.


Um grande Shopping Center, vislumbrando o interesse do público,  ofereceu seu enorme saguão para expor o Gol 88 Vermelho de Kim Basinger e atrair público, ao que ela concordou.


Após alguns dias de exposição, o carro vermelho de Kim já não causava nenhum impacto, tanto que a direção do Shopping já não sabia o que fazer com aquele veículo de frente empinada, tal e qual um cavalo de um herói de faroeste. Mas haviam assinado um contrato por um mês de exposição e não queriam pagar multa, descumprindo-o.


Foi numa dessas tardes em que, enquanto umas poucas pessoas se quedavam perplexas diante do carro vermelho, eu estava sentado observando o veículo e vi Kim Basinger em pessoa.


Um lenço branco enrolado por sobre seus cabelos dourados caia suavemente sobre seu vestido vermelho que bem harmonizava com o carro empinado no saguão. Passou por mim, lançando olhares sedutores ao público que, espantado, não acreditava que aquela deusa escapara da tela da salinha escura e estava bem ali mesmo, diante de seus olhos. Seguida por meia dúzia de seguranças, ela tomou uma escada rolante que descia para o pavimento inferior, enquanto eu a seguia com os olhos.


De repente, levantei-me e, debruçado no corrimão, com toda a força que meu pulmão permitia e minhas aulinhas de inglês, gritei: "Kim, I want to buy your red car! Can we talk about it?".


Por um instante, dei-me conta do que disse e percebi todas as pessoas do Shopping olhando-me e perguntando-se quem eu era para querer comprar o carro vermelho de Kim Basinger. Bem, é certo que nem eu mesmo sabia a resposta. Embora quisesse um carro, não tinha dinheiro suficiente para comprar sequer um Gol 88 qualquer, quanto mais o Gol 88 Vermelho de Kim Basinger. Estava fascinado com tudo aquilo. Sentia-me audacioso em ter feito a proposta de compra para o carro vermelho de Kim Basinger, mesmo sem ter qualquer condição para comprá-lo.


Muitas coisas, como estas, passavam pela minha mente, enquanto Kim e seus seis guarda-costas deslizavam suavemente escada rolante abaixo de mim.


E qual não foi minha surpresa, quando segundos antes de terminarem a descida, Kim, virou-se e olhando para cima, em minha direção, com seu dedo indicador direito pressionando seus lábios rubros de batom mandou-me um beijo, direcionando com sua unha vermelha e longa, articulando movimentos sutis de vai-e-vem, ao que entendi prontamente que estava me chamando. Quedei-me pasmo, sem saber ao certo o que meus olhos haviam visto. Naquele momento, nem poderia justificar tudo aquilo por causa do calor, pois a temperatura naquele Shopping era infinitamente inferior aos 37 graus que fazia lá fora, naquela tarde de verão.


Sentei-me novamente no banco almofadado do saguão, apreciei mais uma vez o carro vermelho de Kim Basinger, enquanto sorvia os últimos goles de refrigerante de copo descartável.


Muitos minutos se passaram. Já não havia um pessoa sequer observando, além de mim mesmo, o carro vermelho.


Cabisbaixo que estava, fiquei atônito quando ao levantar os olhos fui surpreendido com três brutamontes vestidos em preto, de óculos escuros. Um deles disse na minha língua mesmo: "Kim, quer vê-lo! Venha!"


Meus batimentos cardíacos aceleraram, como sempre acontecia em momentos como aquele e mal pude conter o suor que escorria pela minha fronte. "O que será que ela queria comigo?" - perguntava-me. "Será uma piada? Uma pegadinha de televisão?" - questionava.


Mas fui vê-la sim. Quem não gostaria de estar naquela situação!


Fui levado a presença estonteante de Kim Basinger. Ela assinava alguns papéis e dava algumas ordens, que não conseguia entender. "Esses americanos falam muito depressa!" - pensei.


Kim virou-se para mim e perguntou, numa espécie de portanglês, com um sotaque super acentuado: "Então você quer meu carro vermelho...".


Com um sorriso amarelo, nem soube o que responder. Gostaria mesmo é de beber um copo de água mineral e de ser beliscado sem dó. Apenas dei de ombros, num sinal de que se pudesse, gostaria.


"Bem, o carro é seu. E não precisa pagar nada por ele. Mas tem uma condição!!" - foi o que ouvi de seus lábios carnudos e exuberantes.


Não conseguia pronunciar uma palavra sequer.


Alguns minutos depois, estava ao volante do carro vermelho de Kim Basinger e, melhor do que isso, com a própria do lado trafegando pela Avenida Paulista. Uma bateria de motos da polícia nos escoltava.


Ela sempre viajara com o carro, mas nunca havia entrado nele realmente e muito menos passeado dentro dele.


Por instantes, me senti o homem mais feliz do mundo. Tinha o carro vermelho de Kim Basinger e Kim Basinger do meu lado. Ao mudar de marcha, arrisquei em tocar em sua perna, quase atropelando o motociclista que vinha ao nosso lado.



(Edmilson, relatando um sonho: Encontrei este texto nos meus guardados de informática. Escrevi a partir das lembranças de um sonho de dezembro de 1999, se não me engano, sem tirar nem por quaisquer elementos. Tudo o que está escrito e descrito está da forma do sonho. Sem revisão de texto, nada! É um besteirol, uma bobagem surrealista mas..."

2 de dez. de 2011

1968 - TEMPOS BICUDOS

Estávamos jogando aqueles jogos próprios das crianças da época. Bolinhas de gude. Futebol de botão. Bafo com figurinhas colecionáveis etc.

Um estrondo interrompeu as brincadeiras bem no final da tarde quando as luzes da cidade já estavam acesas. Todos acorreram à avenida principal para ver o que havia de tão extraordinário.

Um caminhão basculante estava destroçado num poste bem na entrada do pequeno túnel formado pela linha do trem que passava acima da avenida. Outros postes faiscavam por causa dos fios em curto circuito espalhados pela ruas.

Era necessário cautela das pessoas curiosas que queriam ver o que de fato aconteceu. Alguns diziam que o caminhão, ocupado por criminosos armados, estava em rota de fuga da polícia.

Aqueles tempos eram de apreensão e medo. Eu não entendia muito bem isso mas sentia no semblante das pessoas. As histórias que ouvia os adultos contar, enquanto brincava ao lado deles, eram de arrepiar.

Certa vez, naqueles mesmos trilhos que cruzavam a avenida em cima do túnel, ocorreu um atropelamento de duas pessoas. Diziam que não teria sido acidente e sim obra de um grupo de justiceiros que eliminavam bandidos para facilitar o trabalho da polícia. Claro fui com a turma conferir de perto e vimos os vestígios de sangue espalhados pelos dormentes. Embora causasse um mal estar, respirávamos fundo e suportávamos sem deixar transparecer. Senão, o que iam pensar? Também, de outra feita, apareceu lá na rua, uma mulher toda inchada com o rosto que era uma pústula de tantos hematomas e outros ferimentos. Os comentários davam conta de que ela teria sido violentada por um tarado que vagava pelas redondezas que logo apareceria morto também, sob circunstâncias misteriosas. Certamente, as mulheres viviam preocupadas e evitavam passar por lugares ermos e inóspitos, mormente, nas proximidades de algum matagal.

Não sabia se era assim em todo lugar ou se aquele bairro era violento mesmo. Não tinha discernimento para tanto, mas os fatos inusitados deixavam sim a impressão de que ali não era o paraiso celestial ou era fruto de algo maior que eu não entendia bem. O cachorro da vizinha, um pastor alemão, havia sido inicialmente baleado e, posteriormente, tendo sobrevivido, apareceu morto ao ter ingerido carne envenenada. Também sabia-se do dono de um comércio local que era odiado e temido porque gostava de carne de gato e notava-se que, misteriosamente, os felinos desapareciam um a um. Quem tinha o seu, em sinal de temeridade, aprisionava-o em casa.

Estávamos há pouco menos de um ano antes da copa do mundo de 1970 e todo mundo só falava em futebol.

(memórias de um garoto de 8 anos, recém-chegado em São Paulo)

BRILHO NOVO

Os olhos brilham
a esperança se renova
as nuvens já não são importantes
o calor até incomoda
o verde e o azul
são duplas camadas
de amor que se completa
e que se espera
basta um sutil aceno
ou um estrondoso trovão
e o amor brilhará
como os olhos